A Paixão de Cristo revivida em ato de devoção: a importância das vias-sacras promovidas nas comunidades 

Mariane Rodrigues| Setor Comunicação

Comunidades das paróquias da Arquidiocese de Maceió se envolvem nas vias-sacras pelos bairros da capital e cidades do interior para reviver os caminhos de Cristo até o calvário 

Via sacra. Foto: Itawi Albuquerque.
Via sacra. Foto: Itawi Albuquerque.

“Cada estação em direção ao Calvário do Filho de Deus é, para mim, um momento de dor, mas também de gratidão ao sacrifício”, é assim que Marileide Odilon Pereira define o sentimento de participar da via-sacra no tempo quaresmal promovida pela paróquia que frequenta, Santa Terezinha do Menino Jesus, localizada na Serraria. Nestes 40 dias de conversão, que culminarão com a Páscoa no dia 20 de abril, a Arquidiocese de Maceió promove uma programação de vias-sacras espalhadas pelas comunidades da capital e de cidades do interior de Alagoas.

A Quaresma é um período da liturgia cristã em que os fiéis se dedicam com mais intensidade à conversão espiritual. Nesta época, eles são chamados à vida em oração, caridade e penitência, como uma preparação para celebrar a Páscoa, o dia da Ressurreição de Cristo. A via-sacra também é uma prática religiosa que, apesar de poder ser feita durante todo o ano, é lembrada com maior ênfase na Quaresma.

Via sacra. Foto: Itawi Albuquerque.
Via sacra. Foto: Itawi Albuquerque.

“A via-sacra é para lembrar que nosso Senhor padeceu, foi humilhado, sofreu por nossos pecados. O ponto máximo disso é a cruz. Meditar e rezar a Via Sacra significa meditar os mistérios da paixão de nosso Senhor, do amor de Deus por nós”, explanou o padre Valmir Galdino, chanceler da Arquidiocese de Maceió.

A via-sacra possui 15 estações, que representam cada momento que Jesus Cristo enfrentou ao carregar a cruz até o Calvário. Em cada estação, são feitas orações e meditações sobre o texto bíblico que narra aquele ponto específico de sofrimento de Cristo em direção à crucificação.

“Vamos meditando sobre Jesus que foi humilhado, Jesus que foi denunciado, Jesus que é acolhido por sua mãe, Jesus que é ajudado a carregar a cruz e tantos outros acontecimentos”, explica o padre Valmir.

A Via Sacra de Cristo começa com Ele sendo condenado à morte. Na sequência, ela é composta pelos seguintes acontecimentos: Jesus carrega a cruz, Jesus cai pela primeira vez, Jesus encontra sua mãe, Simão Cireneu ajuda Jesus, Verônica enxuga o rosto de Jesus, Jesus cai pela segunda vez, Jesus consola as mulheres de Jerusalém, Jesus cai pela terceira vez, Jesus é despojado de suas vestes, Jesus é pregado na cruz, Jesus morre na cruz, Jesus é descido da cruz, Jesus é sepultado e Jesus ressuscita dos mortos.

“Praticar a via-sacra é edificar a nossa fé. Quando a gente celebra os mistérios da paixão do Senhor, sentimos que essa celebração nos une e aumenta nossa fé. O que meditamos na via-sacra? O amor de Deus por nós. Deus amou tanto o mundo e o homem que se ofereceu por nós. Aquele sofrimento trágico, cruel e desumano de nosso Senhor nos leva a encarar, perceber e tomar consciência do quanto Deus nos ama e do quanto Deus está conosco também no sofrimento”, reforça o padre Valmir.

Via sacra. Foto: Pascom.
Via sacra. Foto: Pascom.

O mais comum é que a via-sacra seja conduzida por um ministro ordenado, um diácono, um padre ou pelo próprio bispo. Mas nada impede que ela seja conduzida por um leigo.

Uma das principais características desse ato religioso é que o fiel participa ativamente de cada rito. “O fiel toma parte. Ele carrega a cruz, proclama a estação, tem participação ativa na celebração”, enfatiza o padre Valmir.

A via-sacra também pode ser realizada por grupos específicos de pessoas, como somente por homens, mulheres, crianças, jovens, todos juntos, ou cada paróquia pode organizar a sua própria programação de via-Sacra, escolhendo dias e horários para executá-la. Há aquelas que fazem pela manhã, à noite e até de madrugada, em qualquer dia da semana. No entanto, no período quaresmal, priorizam-se as sextas-feiras por ser o dia da morte de Cristo.

Via sacra. Foto: Pascom.
Via sacra. Foto: Pascom.

Não há um critério rígido para a escolha do local da via-sacra. Ele deve ser selecionado de modo a alcançar toda a comunidade. Por isso, há equipes que escolhem parques, há aquelas que percorrem as ruas do bairro e há outras ainda que escolhem residências como pontos de paradas para refletir sobre as estações. Nesta última opção, por exemplo, escolhe-se uma casa para colocar a placa com uma passagem bíblica da Paixão de Cristo. Em seguida, é posta uma mesa com a imagem de Nossa Senhora ou do santo de devoção, um crucifixo e uma vela acesa.

Via-sacra. Pascom.
Via-sacra. Pascom.

“É um modo de evangelizar. Você está indo até a casa. Aquele povo abre sua porta para acolher a via-sacra. As pessoas daquela residência são envolvidas, porque, às vezes, naquela casa, há um idoso que não pode mais participar e não tem mais condições de ir à igreja. É uma forma de a igreja também ir até a casa da pessoa e rezar na sua porta”, explicou o padre Valmir Galdino.

Ele afirma que percebe uma participação ativa dos fiéis, pois eles se veem como parte de uma história de dor e sofrimento, tal qual foi aquela vivida por Cristo.

“Eles gostam de celebrar a Via Sacra. Ela não é um ato litúrgico, mas faz parte da devoção popular. E eles gostam porque a via-sacra fala da vida. Jesus foi condenado, rejeitado, abandonado, injuriado, caluniado. Isso tudo nós vivemos. O padecimento e os sofrimentos fazem parte da nossa história. A via-sacra retrata muito isso, as dores de Jesus, que são as nossas dores.”

Marileide Odilon Pereira está participando de todas as via-sacras realizadas até então em 2025 na Paróquia Santa Terezinha, na Serraria. A programação iniciou no dia 10 de março e seguirá até o dia 3 de abril, sempre às cinco horas da manhã.

Via sacra.
Via sacra.

“Realizar essa trajetória é buscar sermos pessoas melhores, amar os outros, julgar menos, nos purificarmos enquanto seres imperfeitos, inspirados na perfeição do Onipotente, Onipresente e Único Deus, que nos deu Seu Filho para que víssemos a dor do mundo pelos olhos e sofrimento Dele”, explica Marileide.

Morgana Celi Galvão, da mesma paróquia, considera a via-sacra uma oportunidade de refletir sobre o sofrimento e a paixão de Jesus. “Este caminho me inspira a meditar a cada estação os passos de Jesus. Com isso, minha fé se renova e sinto uma motivação ainda maior para buscar o caminho da conversão.”

Via sacra. Foto: Pascom.
Via sacra. Foto: Pascom.

A Paróquia Santa Terezinha prevê a realização de 14  vias-sacras, tendo já feito 8, pelos condomínios, ruas e residências de seu território. Mas, além dela, outras igrejas das mais de 40 cidades que compõem a Arquidiocese de Maceió estão conduzindo o ato religioso com uma programação que vai até abril.

Para saber quando e onde participar, basta acessar o Instagram da paróquia de sua comunidade, onde constam todas as programações.